BIO-FILMO - JAMES DEAN
Nascido a 8 de Fevereiro de 1931 em Marion, Indiana, EUA
Falecido a 30 de Setembro de 1955 em Cholame, California, EUA
«Dream as if you'll live forever. Live as if you'll die today»
«They tell me you are dead, yet I cannot / this night believe the unbelievable». Evelyn
Hunt, uma professora de Vermont, começou assim o poema que escreveu às
quatro da madrugada na noite seguinte à da morte de James Dean. Enviou-o para publicação à Photoplay, dizendo não saber do seu valor, mas que talvez «tivesse algum sentido para quem o tivesse amado». «Não sei» - acrescentava - «as pessoas esquecem tão depressa, tão tão depressa»
O que ela talvez não soubesse é que esse poema à beleza (restless beauty), às mãos (as beautiful as music to the soul), ao sorriso (that probed the memory with pain of much remembered and of more foregone) de Dean,
era o primeiro duma série que há mais de 50 anos ainda se não
interrompeu e a que se juntariam alguns dos grandes poetas e escritores
americanos. É que Dean seria dos poucos (muito poucos) a não ser esquecido «depressa, tão tão depressa».
Dez, trinta, cinquenta anos depois, o seu poster continua a ser a
imagem masculina colada nas paredes (ou nos armários) das casas das
mulheres que nasceram no ano em que ele morreu, ou pouco antes, ou pouco
depois.
«Só fez três filmes. Mas tivesse feito só um, e já era a maior star masculina dos anos 50»
(Andy Warhol). "The Lost Boy" foi a imagem procurada no espelho por
outros tantos "lost boys" que olhavam para si próprios para ver James Dean,
foi a imagem desejada por outras tantas "lost girls" que queriam desse
"girl-boy almost" o gesto de enfiar os dedos nos cabelos. Marilyn e Jimmy são a marca dos fifties e de tudo o que dos fifties nas décadas seguintes se prolonga.
Ambos
foram efémeros passageiros desse e deste mundo, aparições, visitantes
da noite que nunca mais deixaram nada igual ao que antes deles fora. No
caso de Jimmy a velocidade da
passagem é quase inacreditável. Já atrás dissemos que antes de ser já o
era: morreu pouco depois de se estrear o seu primeiro filme e antes da
estreia dos dois outros. Pode-se, é certo, falar da sorte que teve em
fazer filmes com Kazan e Ray, que eram quem melhor o podia perceber: o
cineasta dividido e o cineasta que sempre se contradisse a si próprio.
Pode dizer-se que no “Gigante” já vive "post-mortem", do mito criado por outros. Pode até gente mais nacionalista entrar em cálculos do género: se Dean tivesse vivido até aos 80 anos que hoje estaria quase a fazer, se Brando tivesse morrido depois do “Eléctrico”, do “Wild One”, do “Waterfront”. Pois é, se a minha avó tivesse rodas era carreta. Que interessa o "se"? Dean é a morte de Dean.
Inseparavelmente. Por isso, nas poucas entrevistas que deu, falou
sempre da brevidade da vida. Talvez não fosse premonição, mas exigência.
Talvez não fosse intuição, mas existência. Por longo que tivesse sido,
breve seria sempre o seu modo de viver.
Para a juventude americana James Dean
era a imagem, o modelo, onde se encontravam concentradas não só as
características gerais do adolescente, mas também todas as suas
aspirações imediatas. Exprimia as suas necessidades de revolta, de luta,
de desrespeito pelas convenções impostas pela anterior geração, de
conquista da sua individualidade própria. Não era um inovador, mas
apenas um catalisador, sistematizando um conjunto de regras de
vestuário, atitudes, relações e sentimentos que permitiam a uma
determinada classe etária afirmar-se como tal, afirmação ainda mais
conseguida pela imitação do herói.
Referiu Truffaut que «em James Dean
a juventude actual se encontra a si própria, não tanto pelas razões
habituais – violência, frenesim, perversidade, pessimismo e crueldade –
mas por outras infinitamente mais simples e quotidianas: pudor de
sentimentos, fantasia de todos os instantes, pureza moral sem relação
com a moral corrente mas muito mais rigorosa, gosto eterno da
adolescência pela experimentação, loucura, orgulho e desgosto de se
sentir fora da sociedade, recusa e desejo de se integrar e, finalmente, a
aceitação, ou a recusa de um mundo tal qual ele é».
A juventude, sempre grande consumidora de cinema, obtinha de Hollywood o produto que procurava: o country-boy vivendo deslocado na cidade, solitário, tristonho, romântico, inadaptado, corajoso, rebelde. Mas esse produto
não era vendido a qualquer preço, havia regras para que essa juventude
se mantivesse dentro dos limites do sistema. Que fosse irrequieta e
rebelde como é próprio da sua idade, mas não revolucionária. James Dean
era um rebelde, um excêntrico, um extravagante, mas estava muito longe
de ser um irrecuperável. Era até um bom cidadão americano; mais uns anos
e seria um typical american man, defensor do american way of life.
Mas um dia, com apenas 24 anos, James Dean morreu ao volante do seu Porsche. Pela sua morte encontrou o prestígio esquecido das stars
da grande época, mais próximas dos deuses que dos mortais. A morte
cumpriu o destino de todo o herói mitológico, na sua dupla natureza,
humana e divina. Concluíu a sua humanidade profunda, que é a de lutar
incansavelmente contra o mundo e de, heroicamente, enfrentar uma morte
que o destruirá. Mas, ao mesmo tempo, concluíu a sua natureza
sobre-humana, divinizou-o, abrindo-lhe as portas da imortalidade. Não é
senão depois do seu sacrifício, em que expia a sua condição humana, que o
herói se torna deus.
James Byron Dean
nasceu, sob o signo do Aquário, em lndianapolis. O mais esquecido dos
seus nomes, Byron, foi-lhe dado - diz-se - como homenagem ao poeta
inglês, preferido entre todos pelo pai. É fácil estabelecer associações e
encontrar românticas correspondências. Tinha ele cinco anos, quando a
família se estabeleceu em Los Angeles. Tinha oito, quando a mãe morreu,
e voltou para Indiana, para viver com a avó (biógrafos citam o
ressentimento contra o pai, tema dos seus dois filmes maiores).
Concluiu
o liceu em Fairmount, em 1949: uma medalha de atletismo e um prémio na
classe de arte dramática. Começou a frequentar uma faculdade de Direito,
mas a carreira de actor interessou-o mais. Em 1950, apareceu em
secundaríssimos papéis na televisão. Em 51, foi figurante em “Sailor Beware” (um filme da dupla Dean Martin - Jerry lewis) e teve um minúsculo papel em “Fixed Bayonets” de Samuel Fuller. Diz-se que se apaixonou pelo “Petit Prince” de Saint-Exupéry e que tinha escrito no quarto a frase: "L'essentiel est invisibie pour tes yeux".
Em 1952, entrou para o "Actor's Studio", escolhido por Lee Strasberg. Mais um pequeno papel no cinema (“Has Anybody Seen My Gal?” de Douglas Sirk) e a estreia na Broadway, na peça “See the Jaguar”.
Foram apenas seis representações, mas o suficiente para lhe trazer
algum dinheiro, permitindo-lhe satisfazer a sua paixão pela velocidade –
comprou uma motocicleta Indian 500. Continuou a estudar e a
trabalhar muito (Kazan seria o primeiro a notá-lo) e era já um actor
típico do "método" que aparecia na televisão, em papéis de algum relevo.
Mas quando se tornou verdadeiramente notado foi quando interpretou na Broadway uma adaptação de “O Imoralista”
de Gide, encenada por Daniel Mann, em 54, e que lhe valeu o prémio
"Tony" (o actor mais prometedor do ano). A lenda reza que Kazan o foi
ver e se convenceu imediatamente que tinha achado o protagonista do
filme que preparava: “East of Eden”. De qualquer forma, Kazan convenceu a Warner a contratá-lo, para o papel de Cal, transposição de Caim («…e Caim afastou-se da presença do Senhor e permaneceu na terra de Nod, a leste do paraíso»).
As
filmagens terminaram em Agosto e muito se falou (sobretudo depois) duma
história de amor com uma actriz que Hollywood promoveu e que como ele,
morreria trágica e precocemente: Pier Angeli, de 22 anos, oriunda da
Sardenha, Itália. Embora começasse por ser uma relação serena, depressa
se tornou tempestuosa. Os dois habitavam um pequeno apartamento no mesmo
prédio onde vivia Kazan, tendo este testemunhado diversas discussões
entre o casal. Mas tudo acabaria em Novembro, quando Pier Angeli
abandonou Dean para se casar com o cantor Vic Damone.
Com o dinheiro recebido pelo seu primeiro papel principal no cinema, Dean comprou uma nova motorizada, desta vez uma Triumph T-110,
que conduzia à volta do estúdio, para desespero de Kazan, que o chegoui
a proibir de andar de moto até o filme ficar pronto. Ainda nesse mesmo
ano Dean fez para a televisão “I am a Fool” ao lado de Natalie Wood. A 4 de Janeiro de 1955, foi anunciado que tinha assinado contrato para o novo filme de Nick Ray, “Rebel Without a Cause”.
A 18 de Janeiro as reuniões de produção iniciaram-se, e pouco depois Dean e Ray deslocaram-se a Nova Iorque para procurarem actores para o elenco. Durante essa estadia Dean foi também contratado pela Warner para o papel de Jett Rink no filme “Giant”, a ser realizado por George Stevens. Deixou Nova Iorque a 7 de Março, na véspera da ante-estreia de “East of Eden” em Times Square, dizendo que «não estava para aturar aquela cena».
O início das filmagens de “Rebel” estava programado para o final desse mês, mas ainda antes delas começarem, Jimmy entrou nas corridas de Palm Springs com o seu primeiro Porshe, um Super Speedster. Qualificou-se no segundo lugar. Entretanto “East of Eden”
tinha já estreado em Los Angeles e Jimmy tornou-se uma figura nacional.
A reacção dos jovens americanos, que finalmente tinham uma estrela com a
qual se podiam identificar, foi superior às expectativas e por todos os
Estados Unidos começaram a surgir clubes de fans do actor. A vida
pacata de Dean transformou-se
radicalmente da noite para o dia, e em todos os lugares que
habitualmente frequentava começou a ser rodeado por multidões em
histeria. Ele que sempre tinha ambicionado as luzes da ribalta sentiu-se
emocionalmente perturbado, a ponto de ter iniciado sessões de
psicanálise.
Em Junho, começaram as filmagens de “Giant”, na Virgínia. Era a primeira super-produção em que Dean
se via envolvido, uma vez que no elenco constavam os nomes de Elizabeth
Taylor e Rock Hudson, então no apogeu das respectivas carreiras. E
houve mais dois papéis para a televisão: “The Unlighted Road" e “Danger”. Em Agosto, depois de concluídas as filmagens, Dean comprou um novo carro, um Porsche 550 Spyder, que era mais rápido e mais instável que o Speedster.
Partiu para Salinas para correr com o seu novo brinquedo. Tinha
convidado o pai e alguns amigos, mas acabou por ir sózinho, apenas com o
seu mecânico.
O carro devia ir a reboque mas Jimmy decidiu
conduzi-lo. Durante o percurso chegou a ser multado por excesso de
velocidade, o que não o impediu de continuar aquela que seria a sua
última viagem. Era o dia 30 de Setembro de 1955 e Jimmy
tinha encontro marcado com a lenda, naquele cruzamento das estradas 466
e 41. A colisão, com uma carrinha Ford, originou que Rolf Weutherich, o
mecânico, partisse apenas o maxilar e o fémur, conseguindo assim
sobreviver. Jimmy não teve essa sorte – foi practicamente decapitado e estava morto à chegada ao Hospital War Memorial, de Paso Robles.
Um mês depois, a 27 de Outubro, estreava-se “Rebel Without A Cause”. Um ano mais tarde seria a estreia de “Giant”. No dia 30 de Setembro, o público só conhecia dele o Cal do “East of Eden”.
Mas desde a morte de Valentino, Hollywood não viu uma histeria
semelhante. Nunca viu também um plano como aquele da noite (no filme de
Ray) em que, suspenso das rochas, Jimmy
olha a morte do amigo-rival; nunca viu uma angústia como a que foi sua
quando lhe mataram Sal Mineo (com as meias de cores diferentes) no mesmo
“Rebel”; nunca ouviu ninguém dizer como ele "Speak to me, I beg you, mammy" (“East of Eden”); nunca viu um actor crucificar-se assim, com a espingarda aos ombros e Liz Taylor de joelhos, no Jett Rink do “Gigante”. No breve espaço de um ano James Dean
incarnava duas imagens completamente antagónicas - a de Cal que era a
sua e a de Jett Rink que começava a ser outra coisa e por isso mesmo
ficou interrompida.
FILMOGRAFIA:
1956 – Giant / O Gigante
1955 – Rebel Without A Cause / Fúria de Viver
1955 – East of Eden / A Leste do Paraíso
Nunca vi nenhum filme com ele, mas reconheço o seu encanto!
ResponderEliminarJames Dean, para além de actor também foi pensador e deixou frases impressionantes como esta, que poderemos considerar premonitória dada a sua vida ter sido tão curta:
ResponderEliminar«Viver o mais intensamente, arriscar sempre. Se tivesse 100 anos para viver, ainda não teria tempo para fazer tudo o que quero fazer.»
- Infelizmente, não teve tempo para quase nada! Ficou uma lenda!