Eça de Queiroz
« A Inevitabilidade das Revoluções »
As revoluções não são
factos que se aplaudam ou que se condenem.
Havia nisso o mesmo absurdo
que em aplaudir ou condenar as evoluções do Sol. São factos fatais. Têm
de vir. De cada vez que vêm é sinal de que o homem vai alcançar mais uma
liberdade, mais um direito, mais uma felicidade.
Decerto que os
horrores da revolução são medonhos, decerto que tudo o que é vital nas
sociedades, a família, o trabalho, a educação, sofrem dolorosamente com
a passagem dessa trovoada humana.
Mas as misérias que se sofrem com as
opressões, com os maus regímens, com as tiranias, são maiores ainda.
As
mulheres assassinadas no estado de prenhez e esmagadas com pedras,
quando foi da revolução de 93, é uma coisa horrível; mas as mulheres, as
crianças, os velhos morrendo de frio e de fome, aos milhares nas ruas,
nos Invernos de 80 a 86, por culpa do Estado, e dos tributos e das
finanças perdidas, e da fome e da morte da agricultura, é pior ainda.
As
desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos
maus governos são dolorosas infâmias.
Eça de Queirós, in 'Distrito de Évora'
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