terça-feira, 10 de dezembro de 2019

COISAS E LOISAS DO PRÉMIO NOBEL

Alfred Nobel


Legado de excelência do sueco inventor da dinamite, os prémios Nobel têm sofrido nos últimos anos tratos de polé. Alfred Nobel tinha no seu espírito, com certeza, a distinção e o reconhecimento anual de pessoas ou organizações de contributo marcante para a Humanidade. Da Literatura à Física, da Matemática à Medicina e à Paz, o povo tem demasiadas vezes dado conta nos últimos anos de perniciosos golpes de rins e méritos enviesados....

A atribuição, por um comité designado pelo parlamento norueguês, do Nobel da Paz à União Europeia é, infelizmente, paradigmática de um critério de escolha malabarista, a justificar um coro de críticas, por mais elogiosas que venham a ser as palavras audíveis na cerimónia de entrega do prémio a decorrer  em Oslo.

Sim, é verdade, o projecto iniciado em 1951 por Robert Schuman e Jean Monnet através da Comunidade do Carvão e do Aço, posteriormente evoluindo até à actual União Europeia, pautou-se por mais de um século de paz e prosperidade pós-II Guerra Mundial. 

Houve, pois, várias décadas para distinguir as vantagens do aprofundamento da coesão continental, mas outras figuras foram laureadas, umas por mais mérito, outras, aceite-se, por jogos de sombras inexplicáveis.

Contraditória no Prémio Nobel da Paz 2012 é a tentativa de reposição de justiça num tempo de crise e de sinais de retrocesso no projecto europeu, a começar pelas manifestações evidentes de perda de unidade.

Escolher a União Europeia de entre um naipe de candidaturas constituído por 124 organizações e indivíduos - como Bill Clinton ou Helmut Kohl, o "pai" da reunificação alemã - é sintoma de banalização da mais apreciada distinção mundial. Se Alfred Nobel fosse vivo talvez já estivesse arrependido da sua invenção, tal a dinamitação do prestígio do Prémio - e os 931 mil euros a receber são irrelevantes para o caso.





 Espaço onde prospera cada vez mais e mais desemprego e concomitantes tensões sociais associadas à falta de solidariedade entre os seus estados-membros, só uma razão plausível justifica a atribuição do Nobel da Paz à União Europeia: "é um prémio político", como bem o definiu Jacques Delors, uma das últimas referências credíveis de uma organização hoje entregue a pequenos figurantes, verdadeiras marionetas incapazes de decidir o que quer que seja sem a anuência da Alemanha e países correligionários do Norte.

Resta, assim, uma ténue esperança: a de que pela via da atribuição do Nobel fora de tempo se abra um espaço de reflexão através do qual se readquira uma dimensão política europeia, percebendo-se a utilidade de retroceder na actual tendência para substituir as pessoas por números. É mesmo a única chance aberta de potenciar um Nobel da Paz num tempo prenunciador de agravamento de lutas sociais - mais tarde do que cedo susceptíveis de reeditar os finais dos anos 40 do século passado.

Uma condição deste galardão é a de apenas poder ser concedido a individualidades ainda vivas. 

E a União Europeia  já faleceu há muito!

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