domingo, 1 de dezembro de 2019

DE TEMPOS A TEMPOS - O TEMPO

É pela calada da noite que as minhas lembranças tocam mais depressa o meu coração. No momento em que escrevo não sei que horas são, mas sei que passa muito, mas mesmo muito, da meia-noite.

No silêncio que me envolve sinto as ondas da vida na minha consciência, falando, contando coisas. E quem consegue fugir a esta confissão? 
Há tantos monólogos guardados dentro de mim que, agora, como uma bolha, assumem ao terraço da minha alma.
 
Os meus amigos dizem-me que na minha mente não há espaço para mais nada, está repleta de lembranças, histórias e nomes. E é verdade! Eu lembro-me da mãe da Dª. Lurdes; a padeira de Aljubarrota como lhe chamávamos pelo seu físico estrondosamente redondo e voz cavernosa com que chamava pelas crianças que brincavam no pátio.
 
- Crianças, vocês não têm casa?
 
E era ver quem se escapulia primeiro...
 
 
 

 
 
 
E a Dona Irene, uma velhota de quase oitenta anos que não perdia uma única sessão de cinema da noite. O vizinho, dono de um cinema, oferecia-lhe essa “gulodice”.
 
- Dona Irene, de qual filme gostou mais esta semana?
 
- Ah, de todos, de todos. E a criançada ria.
 
As recordações chegam às catadupas, como se estivessem apontadas em inúmeros cadernos numa projecção incansável.
 
- Os tempos não passam para ti...
 
Passam, passam... Tu é que passas pelos tempos sem reparar neles.
 
- Lembras-te dos dias sublimes e longínquos da tua infância? O que de ti ficará quando tudo passar?
 
No tricot da vida ficam os pontos perfeitos em que buscamos a liberdade de nos descobrirmos como éramos. Caso contrário, será difícil descobrir-mo-nos plenamente, livres autênticos como dantes.


Sei que esta noite mais memórias chegarão, algumas com armadilhas inevitáveis e outras com uma ementa que não saberei por onde começar.


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