domingo, 15 de dezembro de 2019

OS AMIGOS DE PENICHE

Peniche. Aqui já foi um vulcão





“AMIGOS DE PENICHE”


“Foi em 26 de Maio de 1589 – há exactamente 430 anos – que desembarcaram na baía da Consolação 6500 soldados ingleses comandados pelo duque de Essex. Faziam parte de uma poderosa expedição militar de 140 navios e 27.600 homens comandados pelo almirante John Norris que vinha ajudar D. António, Prior do Crato, a apear o seu primo Filipe II de Espanha do trono de Portugal e restaurar a soberania portuguesa.

D. António conseguira de Isabel I de Inglaterra esta imponente armada, de uma envergadura então apenas comparável à “Invencível Armada” espanhola devastada pelos ingleses dois anos antes na Mancha.

Além da famosa “velha aliança” havia interesses comuns na base desta expedição: D. António queria o trono de Portugal; Isabel I desejava impedir os esforços espanhóis de reconstituição do poderio naval de modo a tirar da cabeça de Filipe II a ideia de invadir Inglaterra.

Tudo começou bem: a Fortaleza de Peniche caíu em poder dos homens de Essex desembarcados na Consolação. Aliás, a guarnição portuguesa, submetida a comando espanhol, não deu muito que fazer aos forasteiros.

Enquanto as tropas que desembarcaram rumavam por terra a Lisboa, o resto da frota, sob o comando do célebre Francis Drake, seguiu para Cascais. Os objectivos da invasão eram os seguintes: cercar Lisboa por terra e por mar e ainda ocupar os Açores de modo a cortar a “rota da prata” espanhola.

Os habitantes de Atouguia da Baleia, da Lourinhã, de Torres Vedras, de Loures sentiram logo na pele que aqueles “amigos” eram especiais porque estavam mais interessados em saquear do que em concentrar-se no ataque final a Lisboa.

Às portas da capital as forças terrestres colocaram-se primeiro no Monte Olivete mas mudaram a seguir para o Bairro Alto e logo para a Esperança quando Gabriel Niño fez uso dos canhões do Castelo de S. Jorge. 

A artilharia prometida por Isabel I a D. António não viajara na expedição, assim se limitando a capacidade de resposta. Francis Drake esperava em Cascais a entrada terrestre em Lisboa para cercar a cidade no Tejo; os homens de John Norris, porém, pouco faziam para atacar a bem fortificada e melhor defendida capital, onde os espanhóis tinham reforçado a guarnição e a repressão. As prisões estavam cheias, as execuções de resistentes sucediam-se.

Dentro das muralhas, entretanto, os patriotas prontos a combater e que sabiam do desembarque inglês interrogavam-se: “Que se passa com os nossos amigos que desembarcaram em Peniche? Quando chegam os nossos amigos de Peniche?”

Esses “amigos” manifestavam pouca vocação para agir combatendo os espanhóis. É certo que D. António, para conseguir tão forte exército, também recorrera ao argumento de que as populações portuguesas se sublevariam ao seu lado contra os espanhóis, de tal modo que talvez nem fosse necessário combater…

Mas a ocupação assentava numa repressão feroz, reforçada nesses dias. O levantamento popular não aconteceu.

Menos de um mês depois do desembarque, em vez de atacar Lisboa, a expedição inglesa regressou à base. Mal combatera mas sofrera danos importantes sem alcançar qualquer dos objectivos. Filipe II (I de Portugal) ficou no trono, a reconstrução do poderio naval espanhol não foi afectada, a “rota da prata” não sofreu qualquer perturbação, os Açores não foram ocupados.

Isabel I castigou Francis Drake com seis anos de afastamento da corte e dos mares. D. António, Prior do Crato, morreu em 1595, na miséria, no seu exílio de Paris.

Eis, em poucas palavras, a verdadeira história dos “amigos de Peniche”.

Que afinal não eram “amigos” – antes mercenários que queriam ganhar sem combater.

E que, principalmente, não eram de Peniche, nem portugueses. Porque estes desejavam acima de tudo o fim do domínio espanhol.

E de tal modo teimaram nesse objectivo que em 1640 recuperaram a soberania.”

CENSURA: A VOZ DO DONO DE QUASE TODOS OS JORNALISTAS






Portugal (e não só) vive saturado de (des)informação e não há nada que lhe valha. E não há porque aos fazedores de informação, outrora chamavam-se jornalistas, (sejam, ou não, amigos do José ou do Joaquim) restam duas opções: serem domados e manter o emprego, ou o inverso.



É claro que, no meio desta enorme teia de corrupção, há lugares para todos, mas sobretudo para os invertebrados, quase todos amigos do José e do Joaquim. Do primeiro para agradar ao soba, do segundo para não perderem o emprego.
 
Com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até vemos os josés e os joaquins do reino a recordar, comovidos, os jornalistas assassinados, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciência, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito.
 
Aliás, já se começaram a ver muitos dos josés e dos joaquins que amordaçam os jornalistas, a ir para a ribalta com a bandeira da liberdade de expressão, forma mais ou menos eficaz de ninguém reparar na sua face oculta e na sua apologia pelo calor da noite.

Durante muitos anos o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Portugal deu, dá e dará, um notório e inédito contributo: os despedimentos. Isto, é claro, para além de haver um outro instrumento de medição que se chama corrupção.
 
Até já estamos a ver alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Há cinco anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”.
 
Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos dos jornalistas nem ao dos donos dos donos dos jornalistas.
 
E a resposta não se fez esperar: Jornalista só é bom se hoje for amigo do José e do Joaquim, e amanhã – talvez – do Pedro. O Joaquim mantém-se.
 
Nos últimos seis anos, por exemplo, pelo menos 181 jornalistas que não eram amigos do José nem do Joaquim e que trabalhavam nas redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego, 54 dos quais no despedimento colectivo, inédito na Imprensa portuguesa, levado a cabo pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo”).
 
Pois é. Mas quem os mandou ser Jornalistas? Os que quiseram ser tapetes do poder continuam, por enquanto, a ter emprego...


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sábado, 14 de dezembro de 2019

MORRO BEM, SALVEM A PÁTRIA

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O título dado a esta peça  «Morro bem, salvem a Pátria» foram as últimas palavras proferidas por Sidónio Pais antes de morrer no atentado, segundo o jornalista  Reinaldo Ferreira, também conhe-
cido por Repórter X.
Acontece que nada disto foi autêntico, posto que o jornalista primava e abusava da imaginação p/ "decorar" os seus artigos fantasiando!


14 de Dezembro de 1918: Sidónio Pais, presidente da República, é assassinado, em Lisboa, junto à estação do Rossio.

Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais, foi assassinado no dia 14 de Dezembro de 1918, quando exercia a Presidência de Portugal, por José Júlio da Costa, activista da esquerda republicana. 
Na política,  Sidónio Pais, exerceu as funções de deputado, ministro do Fomento, ministro das Finanças, embaixador de Portugal em Berlim, ministro da Guerra, ministro dos Negócios Estrangeiros, presidente da Junta Revolucionária de 1917, presidente do Ministério e presidente da República Portuguesa.

Exerceu a Presidência de forma ditatorial, suspendendo e alterando por decreto normas essenciais da Constituição Portuguesa de 1911.  Foi  cognominado o presidente-rei.
Quando em 1918 ocorreu uma greve dos trabalhadores rurais no Vale de Santiago, José Júlio da Costa assumiu a posição de negociador entre as autoridades e os grevistas, alcançando um acordo. A actuação daqueles trabalhadores, liderados pela ala anarquista da Comuna da Luz de António Correa, foi considerada perigosa para a ordem pública. O governo não aceitou os termos do acordo, sendo os grevistas severamente punidos e alguns deportados para África.

Sentindo-se traído pela falta de palavra das autoridades, Costa jurou vingar os seus conterrâneos do Vale de Santiago, decidindo assassinar Sidónio Pais, visto então pela esquerda radical como o ditador cuja acção era a fonte da opressão das classes trabalhadoras e como o traidor que abandonara à sua sorte o Corpo Expedicionário que combatera em França.

Costa deslocou-se de Garvão, no  Baixo-Alentejo, até Lisboa, com o objectivo de acabar com o regime sidonista, ou seja pôr termo à República Nova, assassinando o seu líder. A acção foi cuidadosamente preparada, como indica uma carta escrita por ele mesmo em 12 de Dezembro.

No dia 14 de Dezembro, após jantar no restaurante Silva, localizado no Chiado, dirigiu-se à Estação do Rossio, onde aguardou a chegada do chefe de Estado que deveria partir rumo à cidade do Porto. Quando Sidónio Pais se preparava para o embarque, no primeiro andar da estação, Costa furou o duplo e compacto cordão policial ao mesmo tempo em que disparava uma pistola, escondida pelo seu capote alentejano. O primeiro projéctil alojou-se junto do braço direito do presidente, e o segundo, fatalmente, no ventre, fazendo com que a vítima caísse de imediato por terra.
 
 
 
 
 
 
 
 
Apesar da enorme confusão que se instalou, e de que resultaram quatro mortos,  José Júlio Costa, não tentou fugir, deixando-se capturar.
Embora não existam provas convincentes, sempre circularam teses que apontavam para o envolvimento da maçonaria na preparação do assassinato de Sidónio, alegando-se que Costa estaria ligado àquela sociedade secreta. 
Apesar dos rumores, próprios de uma época em que a maçonaria estava sob forte ataque por parte dos círculos mais conservadores, sabia-se que Costa nutria grande simpatia pelo grão-mestre Sebastião de Magalhães Lima. O grão-mestre em carta enviada a um correligionário, afirmou ter mantido contacto com Costa, mas “ achou-o muito doente, receando mesmo pela sua vida que tão preciosa é a esta nossa tão amada terra”. Carecem de prova os rumores de que teria escrito uma carta a Magalhães Lima, que, sem mencionar o pretendido assassinato, teria sido encontrada nos bolsos do grão-mestre quando foi preso e conduzido ao calabouço na noite do assassinato.

Um dos motivos apontados pelos defensores desta tese é o facto de Sidónio ter sido maçom, alegando-se que a maçonaria não perdoaria que os seus antigos membros abandonassem a organização, criando desse modo o mito que Sidónio teria sido morto por outro maçom.

Outro motivo que apontava a cumplicidade da maçonaria na morte do presidente era o conhecido apoio dado pela maçonaria à República e aos republicanos que Sidónio vinha traindo e perseguindo. 
Tal sentimento tinha levado a uma radicalização de posições, com os defensores do sidonismo a acusar a maçonaria de estar por detrás do atentado fracassado que sofrera em 5 de Dezembro. A reacção antimaçónica levara a que no dia imediato, a 6 de Dezembro, a loja do Grande Oriente Lusitano Unido fosse invadida e saqueada.

A tese de que José Júlio da Costa pertencia à maçonaria jamais foi confirmada, apresentando-se como pouco provável pois aquela era uma organização elitista e urbana, onde um militar de baixa patente dificilmente entraria. 
No caso de Costa fazer parte de alguma associação secreta, o que não seria de estranhar devido ao seu empenho político, provavelmente pertencesse à Carbonária, um movimento bem mais radical e com forte implantação nas áreas rurais e entre  praças e sargentos das forças armadas. Contudo, desconhecem-se provas da ligação de José Júlio com qualquer associação secreta.

José Júlio da Costa faleceu em 1946, aos 52 anos, internado no Hospital Miguel Bombarda, depois de 28 anos preso, sem direito a julgamento.
Fontes: Opera Mundi
wikipedia (imagens)




TRAIDORES & VENDILHÕES DA PÁTRIA









Políticos e militares, ou traidores da pátria?


«Muitos dos nossos políticos de hoje foram, antes do 25 de Abril, apoios importantes do inimigo de então, contra o qual se batia e por vezes morria, a juventude portuguesa de todas as etnias. 

Tomaram parte nas suas conspirações, na sua propaganda, nos seus desfiles, ajudaram-nos na diplomacia e na política. Entre eles houve os que fugiram ao cumprimento das suas obrigações militares, com a Pátria em guerra. 

Outros, embora tivessem combatido no Ultramar, não o compreenderam, nem ao seu país, que já então para eles se reduzia ao rectângulo europeu: na medida em que assim era, o seu serviço tornara-se mercenário.

Baseado em sentimentos elevados ou em interesses desprezíveis (a História o determinará), este comportamento foi um facto. 

Como que a justificá-lo, como que evidenciando necessidade de libertação de um complexo insuportável, após o 25 de Abril, logo gente dessa intoxicou o nosso povo, lançando labéus de "colonialismo", "imperialismo", "exploração", "racismo", etc., etc., labéus que desde há muito o inimigo, em plena guerra, não encontrava clima para tão impúdica e profusamente gritar.


A chamada "descolonização", com seus trágicos erros e crimes, é a aplicação daquele desamor, daquela hostilidade para com o Ultramar».


Silvino Silvério Marques (Depoimento publicado no semanário "Rossio" em 29 de Setembro de 1976).

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

NO MEU BLOG O POLITICAMENTE CORRECTO NÃO EXISTE

Aristides de Sousa Mendes - um Oskar Schindler à portuguesa ou a fabricação de um mito...


Aristides de Sousa Mendes


Aristides condicionava a emissão de vistos
e passaportes ao pagamento de verbas



Em carta a Maria Barroso, presidente da «Fundação Aristides de Sousa Mendes»,
Embaixador desmistifica a «lenda» de Aristides de Sousa Mendes


* Desapareceram misteriosamente dos arquivos do MNE (Ministério dos Negócio Estrangeiros) várias peças dos processos que incriminavam Sousa Mendes.
* Aristides de Sousa Mendes acumulou numerosos processos disciplinares desde o longínquo ano de 1917, na República, até 1940.
* Aristides de Sousa Mendes, como foi denunciado pelos serviços da Embaixada Britânica, cobrava dinheiro pela emissão de vistos e passaportes.

Terceiro classificado por votação dos telespectadores no concurso promovido pela RTP «Os Grandes Portugueses», e surgindo agora em filme, a figura de Aristides de Sousa Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus no período da II Grande Guerra, continua envolta em muitos mistérios e alguma polémica.

Para uns, Sousa Mendes é recordado como «um homem bom e justo» que, em Junho de 1940, contrariando as ordens do Governo de Lisboa, emitiu vistos e passaportes e, nalguns casos, chegou mesmo a atribuir falsamente a identidade portuguesa a milhares de foragidos, sobretudo judeus, que pretendiam, a todo o custo, alcançar lugares tidos por seguros. Como Portugal, que Salazar conseguiu manter neutral no conflito.

Para outros, o cônsul está longe de justificar o papel de «herói» que muitos lhe atribuem e, aqui e ali, tentam repor a verdade àquilo a que chamam a «falsificação da História» e, através de factos, muitos deles documentados, desmistificam a «lenda» Sousa Mendes.

Bastará uma pesquisa atenta no arquivo do MNE ao processo do antigo cônsul - apesar de muitas peças do seu "dossier" terem misteriosamente desaparecido, sem que até hoje ninguém tenha procurado investigar quem foi o autor (ou autores) do "desvio" para que algumas «verdades» deixem de o ser.


O irmão gémeo de Aristides - César Sousa Mendes

Ao contrário do seu irmão gémeo César, que também fez carreira na diplomacia tendo alcançado o posto de Ministro Plenipotenciário de 2.ª classe, Aristides arrastou-se entre postos consulares de pequeno relevo, foi acumulando processos e mais processos disciplinares desde o longínquo ano de 1917, na I República, até 1940, tendo acabado por passar à disponibilidade a aguardar aposentação, mas continuando a auferir a totalidade do vencimento correspondente à sua categoria (1.595$30). O que desde logo «mata» a tese dos que teimam em acusar Salazar de ter «perseguido» o cônsul e de o ter «obrigado» a «morrer na miséria».

Pelo contrário, o então Presidente do Conselho mostrou-se benevolente com Aristides em muitas alturas, nomeadamente quando, contrariando o parecer do Conselho Disciplinar do MNE que, na sequência de mais um processo disciplinar, propôs a pena de descida de categoria do cônsul, apenas determinou a sua inactividade por um ano, com vencimento de categoria reduzido a metade, mas recebendo a totalidade do salário correspondente ao exercício.

Outra verdade que tem sido ocultada pelos defensores de Aristides Sousa Mendes: o cônsul condicionava a emissão de vistos e passaportes ao pagamento de verbas e à obrigatoriedade de contribuição para um estranho «fundo de caridade» por si próprio instituído e gerido, situação que viria a ser denunciada junto do MNE quer pelos serviços da embaixada britânica quer por muitos dos que beneficiaram das «facilidades» de Mendes.



A casa de Sousa Mendes em Cabanas do Viriato

Também esclarecedora para a verdade sobre Sousa Mendes é a carta que o Embaixador Carlos Fernandes (*) dirigiu, em Maio de 2004, a Maria Barroso Soares, presidente da entretanto criada «Fundação Aristides de Sousa Mendes», quando esta pretendeu promover uma homenagem nacional, custeada com dinheiros públicos, ao antigo cônsul.

Embaixador Carlos Augusto Fernandes, licenciado em Direito, com distinção, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Entrou no MNE em Abril de 1948 como adido de Legação. Foi cônsul de Portugal em Nova Iorque e Encarregado de Negócios no Paquistão, Montevideu (Uruguai) e Venezuela. Foi Conselheiro da Legação Portuguesa na NATO (Paris), Director Económico do MNE, Director dos Serviços Jurídicos e Tratados do MNE e Embaixador de Portugal no México, Holanda e Turquia.

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Um semanário da nossa praça teve acesso à referida missiva, bem como a algumas «notas soltas» que o embaixador lhe juntou, que aqui publicamos na íntegra.

Lisboa, 5/5/04

Senhora Dra. Maria Barroso Soares,

Um antigo embaixador de Israel em Portugal, que foi «instrumental»» na mitificação de Aristides Sousa Mendes, publicou há dois dias no Diário de Notícias, a propósito do aniversário daquele antigo cônsul, um artigo de elogio a Sousa Mendes, reincidindo em duas mentiras que foram fundamentais para aquela mitificação:

a) que foi expulso da carreira diplomática;
b) que morreu na miséria (depreendendo-se que por ter sido expulso da carreira diplomática e sem vencimento).

Ora, tanto quanto eu pude averiguar, primeiro, Sousa Mendes nunca foi da carreira diplomática, pertencendo sempre à carreira consular, que era diferente, e, em princípio, mais rendosa; depois, nunca dela foi expulso: como conclusão de um 5.º processo disciplinar, foi colocado na inactividade por um ano, com metade do vencimento de categorias e, depois desse tempo, aguardando aposentação com o vencimento da sua categoria (1.595$30 por mês) até morrer, sem nunca ter sido aposentado, situação mais favorável do que a aposentação.

Portanto, se morreu na miséria, ou pelo menos com grandes dificuldades financeiras, isso deve-se a outros factores que não à não recepção do seu vencimento normal em Lisboa.

Demais, A. Sousa Mendes viveu sempre com grandes dificuldades financeiras. É óbvio que, quem tenha 14 filhos da mulher, uma amante e uma filha da amante não sairá nunca de grandes dificuldades financeiras, salvo se tiver outros rendimentos significativos, além do vencimento de cônsul.


Aristides de Sousa Mendes e parte da sua prole

Vi pelo artigo acima referido que a Sr.ª Dr.ª. M. Barroso é presidente da Fundação A. S. Mendes, e só por isso lhe escrevo esta carta e lhe remeto os elementos de informação anexos.

Eu escrevi sobre Sousa Mendes, de forma simpática, num livro publicado há dois anos (Recordando o caso Delgado e outros casos, Universitária Editora, Lisboa, 2002) de págs. 27 a 30, porque o conheci e tive ocasião de ajudar dois dos seus filhos, um em Lisboa e outro depois em Nova Iorque quando lá era cônsul.

Nada me move contra A. Sousa Mendes, antes o contrário, mas não posso pactuar com a mentira descarada e generalizada.

Salazar é atacável por várias razões, mas não por ter «perseguido» A. Sousa Mendes, que, aliás, teve problemas disciplinares em todos os regimes de 1917 a 1940.

Quando fui director dos Serviços Jurídicos e de Tratados do MNE tive de estudar o último processo disciplinar de A. Sousa Mendes, de cuja pasta retiraram já muitas peças.

Por outro lado, o meu amigo Prof. Doutor Joaquim Pinto, sem eu saber, fez um estudo bastante completo sobre A. Sousa Mendes, e com notável imparcialidade.

Eu não pretendo vir a público atacar ou defender A. Sousa Mendes, e, por isso, nem penso rectificar o artigo do embaixador de Israel, mas em abono da verdade, e para seu conhecimento, entendo ser meu dever remeter-lhe cópia do estudo e notas em anexo, de que poderá fazer o uso que entender.
Com respeitosos cumprimentos,


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Algumas Notas sobre Aristides Sousa Mendes

Num «memorandum» da Embaixada Britânica, datado de 20/6/40, diz-se: «O cônsul de Portugal em Bordéus protela para fora das horas de expediente todos os pedidos de vistos, e cobra por eles taxas extraordinárias. Pelo menos num caso foi ainda o interessado convidado a contribuir para um fundo português de caridade antes de ser-lhe concedido visto».


Processo

Despacho de Salazar preparado pelo Secretário Geral:

«Atendendo a que às infracções cometidas, não tendo em consideração a reincidência, cabe a pena do n.º 8 do artigo 6.º do Regulamento Disciplinar;
Atendendo a que do relatório consta “e o Conselho reconhece a incapacidade profissional do arguido para dirigir consulados, especialmente os da sua categoria”;
Condena o cônsul de 1.ª classe, Aristides Sousa Mendes, na pena de um ano de inactividade com direito a metade do vencimento de categoria, devendo em seguida ser aposentado.
Lisboa, 30 de Outubro de 1940
Salazar».
Imputadas Faltas (Desde Novembro de 1939 a fins de Junho de 1940):
a) desobediência
b) falsificação de escrita
c) abandono do lugar
d) concessão (imputação do Embaixador Britânico, de 20/6/40)
e) vistos a austríacos, espanhóis, luxemburgueses e polacos Atribuiu falsamente a nacionalidade portuguesa ao casal Miny, em 30/5/40.

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Em 18 e 19/6/40, vai a Bayone impondo ao cônsul ali a concessão de vistos, quer de trânsito quer de residência, independentemente de consulta.
Como o cônsul Faria Machado objectasse, afirmou-lhe, falsamente, que recebera instruções nesse sentido e que fora a Bayone expressamente para lhas comunicar.

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Já assim procedera em Novembro de 1939, quando ainda não havia êxodo de França, o qual só começou em Maio/Junho de 1940.

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Não propôs à Secretaria de Estado mudanças das instruções com que depois disse não concordar, nem mudança de posto.

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Justificou a falsificação da identidade dos Miny com o humanitarismo.

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Era já o 4.º processo disciplinar de Aristides (1935, por declarações públicas; de novo em 1935, por irregularidades na contabilidade consular; em 1938, ausentou-se do seu posto na Bélgica e veio a Portugal sem autorização quer da Legação em Bruxelas quer de Lisboa; e ainda outro que foi instruído pelo Dr. Francisco António Correia).

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De 1937 a 1939, consta uma extensa lista de repreensões e censuras. Já em 1917 fora repreendido por se ausentar de Zanzibar.

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O Conselho Disciplinar do MNE propôs a pena de regresso à categoria anterior (cônsul de 2.ª classe), prevista no nº 9.º do artigo 6.º do Regulamento Disciplinar dos F. Civis.

O S. Geral (Teixeira de Sampaio) entendeu diferente. Salazar, dentro dos seus poderes, despachou a proposta do S. Geral (muito mais benigna).

Isto fez que Sousa Mendes morresse aguardando aposentação, recebendo, depois do ano de inactividade, o seu vencimento por inteiro, como se verifica da declaração que apresentou à Ordem dos Advogados em 25 de Abril de 1946 (1.595$30 por mês) num requerimento que então lhe dirigiu.


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Portugal, os Cônsules, e os Refugiados Judeus (1938-1941)


(...) Uma curta análise das listas e vistos passados por Aristides de Sousa Mendes aos Judeus e não-Judeus em Maio e Junho de 1040, mostra – sem diminuir a grandeza da sua atitude – que o número de vistos concedidos pelo cônsul era menor do que os que são mencionados pela literatura, levantando uma série de questões relativas a Portugal e à entrada de refugiados Judeus.

Foi provavelmente Harry Ezratty o primeiro a mencionar, num artigo publicado em 1964, que Aristides de Sousa Mendes tinha salvo 30,000 refugiados, dos quais 10,000 judeus, um número que desde então tem sido repetido automaticamente por jornalistas e académicos. Ou seja, Ezratty, imprudentemente, pegou no número total de judeus que passaram por Portugal e atribuiu-o ao trabalho de Aristides de Sousa Mendes. De acordo com a lista dos vistos emitidos no consulado de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes passou 2,862 vistos entre 1 de Janeiro e 22 de Junho de 1940. A maioria, ou seja, 1,575 vistos, foram passados entre 11 e 22 de Junho, nos últimos dias da sua carreira consular em Bordéus. Nunca saberemos exactamente quantos vistos terá passado nos sub-postos de Bayonnne e na cidade de Hendaye, lugares por onde ele passou ao ser chamado a Lisboa por insubordinação; nestes lugares Aristides passou vistos sem o selo consular e apenas escritos à mão, e portanto não foram registados em lado nenhum.

Por forma a ter uma ideia do exagero no número de judeus que na realidade entraram em Portugal por um lado, e do número de judeus que se acredita terem entrado graças a Sousa Mendes por outro, basta citar que, no relatório do HICEM (organização judaica que ajudava os judeus a emigrar), 1,548 Judeus que vieram para Portugal como refugiados sem vistos para outros países, saíram de navio de Lisboa na segunda metade do ano 1940, e 4,908 Judeus, com a ajuda do HICEM, partiram durante 1941. A este número, devemos acrescentar aproximadamente 2,000 Judeus que vieram directamente de Itália, Alemanha, e de outros países anexados por alemães e possuidores de vistos americanos.




Os «30 mil refugiados» salvos por Aristides de Sousa Mendes

No total, em dezoito meses, de Julho de 1940 Dezembro de 1941, o HICEM tomou conta do transporte por navio de 8,346 Judeus que deixaram Lisboa para países de além-mar. Tudo indica que temos de acrescentar a estes números os Judeus que transitaram e deixaram Portugal pelos seus próprios meios. Mesmo assim, a discrepância entre a realidade e o número de vistos passados por Aristides de Sousa Mendes é grande. (...)

As contribuições para instituições de caridade (de Aristides)
(
...) Outro episódio que irritou o MNE (Ministério dos Negócios Estrangeiros), e que finalmente levou Sousa Mendes a ser chamado de volta ao consulado geral, tem a sua origem num memorando enviado pela embaixada britânica em Lisboa ao MNE, queixando-se do comportamento do Cônsul português em Bordéus que pedia taxas extras aos cidadãos britânicos que pediam vistos: O Cônsul Português de Bordéus tem estado a adiar para depois das horas de serviço todos os pedidos de vistos e tem cobrado uma taxa especial; em pelos menos um caso, ao requerente foi também pedido que contribuísse para um fundo de caridade português antes do visto ser concedido. Memorando da Embaixada Britânica em Lisboa de 20 de Junho de 1940, AMNE RC M 779.

Em 1923, enquanto colocado em São Francisco (EUA), Aristides de Sousa Mendes teve um conflito com a comunidade portuguesa local sobre uma contribuição por ele pedida para uma instituição de caridade que os luso-americanos recusaram. O caso, que não chegou a ser reportado ao MNE, chegou à imprensa sob a forma de insultos e o MNE considerou-o um sério erro. (Afonso Rui, Injustiça, pp. 22-26).

Em Bordéus, não foi, portanto, a primeira vez que Aristides de Sousa Mendes se empenhou numa causa caritativa. (...)



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José Hermano Saraiva in Álbum de Memórias

[Leite Pinto] fala, a propósito, na operação de salvamento dos refugiados republicanos espanhóis e dos judeus que, no início da Segunda Guerra Mundial, se acumulavam na fronteira de Irún, na ânsia de salvar as vidas. Vieram embarcados nos vagões da Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira Alta, que iam até Irún carregados de volfrâmio, e voltavam a Vilar Formoso carregados de fugitivos.

A operação foi mantida rigorosamente secreta porque as autoridades espanholas não consentiriam.

Segundo um protocolo firmado pelas autoridades ferroviárias dos dois países, os vagões deviam circular selados, quer à ida quer à vinda. Um dos que assim salvaram a vida foi o Barão de Rothschild. O embaixador Teixeira de Sampaio confirmou-me, mais tarde, esses factos.

O salvamento de 30.000 refugiados deu-se ao mesmo tempo que o cônsul de Portugal em Bordéus, em cumplicidade com dois funcionários da PIDE, falsificava algumas centenas de vistos, que vendia por bom preço a emigrantes com dinheiro. Um dos que utilizaram esta via supôs que todos os outros vieram do mesmo modo – e assim nasceu a versão, hoje oficialmente consagrada, de que a operação de salvamento se deve ao cônsul de Bordéus, Aristides de Sousa Mendes. Este, homem muito afecto ao Estado Novo, nem sequer foi demitido, mas sim colocado na situação de aguardar aposentação. Os seus cúmplices da PIDE foram julgados, condenados e demitidos.

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

COISAS E LOISAS DO PRÉMIO NOBEL

Alfred Nobel


Legado de excelência do sueco inventor da dinamite, os prémios Nobel têm sofrido nos últimos anos tratos de polé. Alfred Nobel tinha no seu espírito, com certeza, a distinção e o reconhecimento anual de pessoas ou organizações de contributo marcante para a Humanidade. Da Literatura à Física, da Matemática à Medicina e à Paz, o povo tem demasiadas vezes dado conta nos últimos anos de perniciosos golpes de rins e méritos enviesados....

A atribuição, por um comité designado pelo parlamento norueguês, do Nobel da Paz à União Europeia é, infelizmente, paradigmática de um critério de escolha malabarista, a justificar um coro de críticas, por mais elogiosas que venham a ser as palavras audíveis na cerimónia de entrega do prémio a decorrer  em Oslo.

Sim, é verdade, o projecto iniciado em 1951 por Robert Schuman e Jean Monnet através da Comunidade do Carvão e do Aço, posteriormente evoluindo até à actual União Europeia, pautou-se por mais de um século de paz e prosperidade pós-II Guerra Mundial. 

Houve, pois, várias décadas para distinguir as vantagens do aprofundamento da coesão continental, mas outras figuras foram laureadas, umas por mais mérito, outras, aceite-se, por jogos de sombras inexplicáveis.

Contraditória no Prémio Nobel da Paz 2012 é a tentativa de reposição de justiça num tempo de crise e de sinais de retrocesso no projecto europeu, a começar pelas manifestações evidentes de perda de unidade.

Escolher a União Europeia de entre um naipe de candidaturas constituído por 124 organizações e indivíduos - como Bill Clinton ou Helmut Kohl, o "pai" da reunificação alemã - é sintoma de banalização da mais apreciada distinção mundial. Se Alfred Nobel fosse vivo talvez já estivesse arrependido da sua invenção, tal a dinamitação do prestígio do Prémio - e os 931 mil euros a receber são irrelevantes para o caso.





 Espaço onde prospera cada vez mais e mais desemprego e concomitantes tensões sociais associadas à falta de solidariedade entre os seus estados-membros, só uma razão plausível justifica a atribuição do Nobel da Paz à União Europeia: "é um prémio político", como bem o definiu Jacques Delors, uma das últimas referências credíveis de uma organização hoje entregue a pequenos figurantes, verdadeiras marionetas incapazes de decidir o que quer que seja sem a anuência da Alemanha e países correligionários do Norte.

Resta, assim, uma ténue esperança: a de que pela via da atribuição do Nobel fora de tempo se abra um espaço de reflexão através do qual se readquira uma dimensão política europeia, percebendo-se a utilidade de retroceder na actual tendência para substituir as pessoas por números. É mesmo a única chance aberta de potenciar um Nobel da Paz num tempo prenunciador de agravamento de lutas sociais - mais tarde do que cedo susceptíveis de reeditar os finais dos anos 40 do século passado.

Uma condição deste galardão é a de apenas poder ser concedido a individualidades ainda vivas. 

E a União Europeia  já faleceu há muito!

domingo, 8 de dezembro de 2019

A CONQUISTA DO CASTELO DOS MOUROS EM SINTRA

Navios Vikings




Ataque de Sigurd a Sintra, pelo rio de Colares, em 1109

Em 1109 ocorreu uma vaga de ataques à costa do Garb al-Ândalus bem ao estilo dos piratas viquingues, ainda que fora da chamada “Idade Viquingue” (com fim em 1086). 

Essa vaga de ataques foi liderada por Sigurd, jovem co-monarca norueguês que seguia a caminho da Terra Santa com 60 navios e que pilhou vários locais costeiros depois de invernar em Inglaterra e de fazer estragos na costa da Galiza, sendo que neste último caso isso ocorreu após o governador local deixar de abastecer as forças nórdicas com a comida e os suprimentos adequados. 

Continuando a viagem para Sul, e para o caso do actual território português, Sintra, Lisboa e Alcácer do Sal foram os próximos locais atacados por Sigurd e pelas suas forças. 

No caso de Sintra, é muito provável que os guerreiros nórdicos tenham subido o rio de Colares (outrora navegável) durante a preia-mar e desembarcado no porto local. 

Aliando a proximidade do alvo (castelo) a atacar às possibilidades de progressão no terreno, nenhum outro local oferecia melhores condições de desembarque que a costa de Colares, cuja subida do rio condizia bem com o estilo destes guerreiros, habituados a expedições por quilómetros acima da linha de costa em navios adaptados a cursos de água rasos. 

 .
 Sigurd, jovem co-monarca norueguês 
nascido no Séc. IX



 Seguiu-se um ataque ao castelo de Sintra (Mouros ou Colir?), o qual era habitado por “pagáns que loitaban contra cristiáns”.

Sigurd conquistou o castelo e matou todos os seus habitantes porquanto não se quiserem converter ao Cristianismo, obtendo uma grande presa.

Assim reza a saga nórdica que eternizou os feitos de Sigurd, embora alguns pormenores sejam bastante discutíveis.

Para este mesmo ano de 1109 também surge a notícia de que o conde D. Henrique conquistou Sintra aos mouros, pelo que Sigurd e as suas forças poderão ter coadjuvado o ataque do dito conde.



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